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Menos é mais durante a peregrinação a Santiago de Compostela

Menos é mais é um conceito para quem se propõe a realizar o projeto de peregrinação até Santiago de Compostela. Estará fazendo, de forma consciente ou não, a opção completa e total de usar menos e ser mais, em todos os sentidos.

Viver com menos coisas materiais

Menos é mais significa que você vai aprender a vivenciar com menos bagagem na mochila, vai aproveitar mais a caminhar, a admirar por onde passa e sentir-se melhor por dentro. Você vai se integrar intensamente às energias cósmicas e telúricas que imantam todo o caminho até Santiago de Compostela, que é o nosso (e de todos que lá estarão) ‘Caminho das Estrelas’.

Dessa forma, o seu esforço, físico e mental, fica mais focado em conduzir você (corpo e alma) a seu objetivo, e não em carregar coisas materiais. Para quem recorre a ajuda de um carro de apoio para levar a sua bagagem, e não há nenhum ‘pecado’ em fazê-lo, também poderá usufruir da sua caminhada dessa forma mas diferentemente de quem optou por apenas depender de si próprio.

Na segunda hipótese, estará sempre fazendo a peregrinação em função de alguém que estará levando suas posses materiais, das quais não abriu mão. Também as vezes não dá mesmo para abrir mão, a depender do contexto, como por exemplo aproveitar uma viagem, anterior ou posterior à peregrinação, a outro local da Europa.

Valorizando coisas ás quais nós não damos importância normalmente

No contexto do ‘menos é mais’, vamos vivenciar a valorização de coisas às quais não damos importância alguma quando estamos em nossas atividades corriqueiras do dia-a-dia de nossas vidas, fora do Caminho de Santiago. Vamos perceber quão importante é o funcionamento do nosso sistema respiratório, do sistema circulatório, da alimentação, da visão, da audição, dos músculos, ossos e sistema nervoso. Com cada passo dado, vencemos pouco a pouco subidas, descidas e planícies. Cada respiração, cada bombeamento do sangue irrigando nossas células, nos permite avançar, passo a passo, até atingir o nosso objetivo, longínquo e distante de início, mas que vamos vivenciando o sucesso em nos aproximarmos de nossa meta.

O silêncio, a calma, a contemplação das pequenas vilas

Na ótica do ‘menos é mais’, nas grandes cidades e centros urbanos, vamos sentir a agitação, o burburinho, o trânsito de veículos de todos os tipos, os ruídos da vida do dia-a-dia nas mesmas contrastando com a experiência oposta nas pequenas localidades. Nos grandes centros urbanos, a pressa, a irritação, a exasperação e impaciência das pessoas. Nas pequenas vilas, aldeias e cidadezinhas, temos o silêncio, a calma, a contemplação, o ouvir as músicas do vento, a natureza sábia e perene reinando absoluta, o olhar para dentro de cada um.

E nestas pequeninas cidades, vilarejos e aldeamentos ao longo da rota, onde o sentido da peregrinação de cada um é mais realçado, e vivenciado na plenitude, pode-se aproveitar os tempos de parada ou descanso. Tem a oportunidade de conhecer o que o Caminho de Santiago nos oferece e proporciona, em termos de pontos de interesse histórico, turístico ou gastronômico que existem. Para além das grandes cidades, nas pequenas localidades, vamos observar todo o tempo, por exemplo, a incrível e vasta infraestrutura de suporte aos peregrinos para Santiago de Compostela, que foi construída ou apoiada pela ordem dos Cavaleiros Templários.

Caminho de Santiago nos tempos neolíticos

Vamos nos deparar também com elementos da presença humana por estas trilhas desde os tempos neolíticos. Só relembrando: o ‘Neolítico’ é o período histórico posterior ao da ‘pedra lascada’ (Paleolítico). No Neolítico é quando os grupamentos humanos aprenderam, e passaram a cultivar, a agricultura. Estima-se que tal ocorreu a cerca de 20.000 anos atrás, tornando o homem não mais dependente apenas da coleta e da caça, fazendo com que se transformassem de seres puramente nômades, passando a formar comunidades fixas.

As primeiras aglomerações humanas no Neolítico, evidentemente, eram criadas próximas a rios, de modo a usufruir do uso da água, para os seres humanos e animais, bem como da terra fértil em suas margens (onde eram colocadas sementes para plantio). Também nesse período começou a domesticação de animais.

Posteriormente ao Neolítico se deu o início da Idade dos Metais, quando o ser humano passou a conhecer e dominar a técnica de construir ferramentas (e armas!) a partir dos metais existentes na natureza. Com o domínio sobre a construção de armas a partir de metais, o movimento de lutas e dominação de povoamentos sobre outros (mais atrasados no domínio dessa técnica) se intensificou, passando a ocorrer o início da formação de povos e castas de dominadores. Assim, alem de aprender que menos é mais, tem possibilidade de encontrar todos esses aspectos, da Idade Média e de períodos anteriores no tempo. Basta uma breve caminhada adicional ao já percorrido no dia pelas rotas do Caminho de Santiago. E isto não é nenhum esforço extra que seja relevante para quem vem percorrendo uma média de 20 a 30 km diários.Vamos a alguns exemplos nesse sentido:

Saint-Jean-Pied-De-Port

Vale a visita a Eglise Notre-Dame de I’Assomption, do século XIII, que fica na entrada da cidade murada. Há também a Prison des Eveques (Prisão dos Bispos) um pequeno museu, na mesma rua.

Mais-é-menos

Roncesvalles

É famosa pela derrota de Carlos Magno e pela morte de Rolando em 778, durante a batalha de Roncesvales, onde a retaguarda de Carlos Magno foi destruída pelas tribos bascas. Em 2016 tinha 34 habitantes, situa-se a uma altitude de 900 m nos Pirenéus, a 4 km em linha reta da fronteira com França. Em Roncesvalles estão a Capela do Espírito Santo e a Colegiata de Santa Maria. A capela tem uma missa de proteção aos peregrinos muito bonita. Também a Colegiata possui relíquias dos tempos de dominação de Carlos Magno e Rolando por toda esta região da Europa.

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Puente la Reina

Visitar a Iglesia del Crucifijo, construída pelos templários no século XII. Também tem a Igresia de Santiago, que proporciona uma missa aos peregrinos. E cruzaremos a ponte medieval que dá nome a cidade.Mais-é-menos

Los Arcos

Conhecer a Iglesia de Santa Maria em estilo gótico onde também se celebram missas de proteção aos peregrinos.

Najera

Existe a gruta onde se encontrou a imagem que recebeu o nome de Santa María en La Cueva, que está no Monastério de Santa Maria La Real.

Carrion de los Condes

Visitar a Iglesia de Santa Maria del Camino, do séc. XII ao lado do albergue municipal. A imagem de Santa Maria del Camino que está em seu interior tem 800 anos de idade.

Ponferrada

O grande destaque é o Castillo de los Templários, que foi construído para proteger os peregrinos na idade média. Aqui tem uma exposição permanente de livros da Idade Média e dos Cavaleiros Templários. É o maior acervo desse tipo no mundo. A cidade conta também com o incrível Museo del Bierzo, que conta a história da região através de objetos que vão desde o paleolítico.

Mais-é-menos

O Cebreiro

O Cebreiro está no alto de uma montanha, a mais de 1200 metros de altura. Além do casario pré-medieval que é incrível, pode-se conhecer a igreja Santa Maria La Real, do séc IX, onde a lenda conta que aconteceu o ‘milagre eucarístico’.

O milagre eucarístico

No inverno do ano de 1300 fazia frio e chovia muito , mas mesmo assim um camponês saiu de casa até a igreja de Santa María La Real para assistir à missa. O padre quando entrou na igreja e viu que havia um fiel para assistir à missa, pensou: ‘não vale a pena sair de casa nessas condições de clima apenas para assistir a uma missa’. Para que a falta de fé do sacerdote fosse punida, a hóstia e o vinho foram transformados em carne e sangue. Assim aqueles utensílios eucarísticos que contêm a hóstia e o vinho passaram a ser conhecidos e venerados como ‘o Santo Graal da Galícia’ (El cáliz y la paleta del milagro).

À direita do altar, fica a Capela do Santo Milagre, onde se encontra a imagem da Virgem dos Remédios, com a cabeça levemente inclinada. A lenda diz que a imagem inclinou a cabeça para poder ver o milagre eucarístico. Quanto ás construções da aldeiazinha, foram os Celtas que as deixaram como herança e marca de sua presença ali. As pallozas, como são conhecidas, são construções circulares, feitas com pedra e teto de palha muito apropriadas para suportar a neve e os fortes ventos. Não deixar de ver também o Museu Etnográfico do Cebreiro, com utensílios que ajudam a entender como viviam os povos antigos nessa região.

Redator
Paulo Fernandez

Paulo Fernandez

Consultor Santiago de Compostela

Paulo Fernandez é consultor da Nattrip para a peregrinação à Santiago de Compostela, tendo concluído o Caminho Francês desde Saint-Jean-Pied-de-Port em 1999.

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